sábado, 24 de maio de 2008

Jeitinho brasileiro

O uso da expressão "jeitinho brasileiro" tornou-se uma praga que infesta quase todas as falas que ouvimos o dia todo. Não há nenhum fundamento sólido que justifique essa expressão, que é mal cunhada e mal utilizada por muitos comunicadores – péssimos críticos, pelo menos. A expressão apenas manifesta o preconceito e a preguiça intelectual de quem a utiliza, na busca por uma generalização desinteligente e por uma fala supostamente bonita e popular.
Vendo pelos contextos, parece que as principais idéias presentes na expressão “jeitinho brasileiro” se referem a comportamentos que revelam a preguiça, a desonestidade – presente na idéia de “se dar bem” enganado os outros ou se apropriando do que pertence a todos. E a primeira idéia é que trata-se de uma marca do brasileiro, ou seja, é um traço da identidade nacional – e a partir daí se inicia um perigoso equívoco: A "preguiça" – que, se manifesta em qualquer ser humano e ñ só nos brasileiros, como sugere a expressão – é uma contrapartida comportamental exacerbada a uma tendência muito conhecida como lei do menor esforço: Economicamente, "a maior produção pelos menores custos possíveis"; "o máximo de satisfação pelo mínimo de esforço". Os habitantes de todos os países estão sujeitos a ela. Os hábitos desonestos e a falta de respeito pelos direitos alheios são pura decorrência da impunidade, e não da brasilidade.
“Jeitinho brasileiro"... Se alguém pretende criar um conceito, está num ótimo caminho! Mas é bom também q estude e faça reflexões objetivas; ñ que fique desgastando nossa língua e nossa paciência com usos sem sentido, sem bom senso. O próprio fato de criar expressões com esse grau de seriedade é danoso à auto-estima nacional... E, no futuro, pode ser base para a elaboração de um conceito tão ou mais preconceituoso. É importante discutir a identidade nacional; mas identidade nacional num país grande – e diverso – como o nosso, definitivamente, não é feita sem muito trabalho, rigor científico e - se é que é preciso dizer – muita, mas muita seriedade. E é impossível que se resuma numa expressão pobre como "Jeitinho brasileiro", que não consegue dizer nada – quando deveria dizer tanto...
Nossa identidade cultural é gigante. Tão grande que só conseguimos vê-la em parte: A “nordestina” – que quer dizer milhares de ricas e complexas particularidades; a “gaúcha”, igualmente; a “mineira”, a “baiana” (q é parte da “nordestina”); a “amazônica”, que traduz um verdadeiro universo cultural e tantas... Tantas... Acho mesmo que as pessoas q falam em "Jeitinho brasileiro” não querem falar de identidade cultural brasileira... Trata-se de um empreendimento sério, vasto, trabalhoso; cansativo como um texto mal escrito e longo [como esse? – Não. Muito (!) mais!]. Acima de tudo, é bom q se diga, trata-se de um empreendimento que não se alcança com pretensões simplistas.
"Jeitinho brasileiro"... O uso desse conceito - que não é conceito nenhum porque não conceitua nada – se presta a muitos fins sujos e nocivos, como a proteção aos delinqüentes institucionalizados – os políticos e outros agentes públicos ou não – que deveriam ser responsabilizados pelas decorrências de seus atos e pelo não cumprimento dos deveres que lhe são imputados por nosso "povinho brasileiro" [já que a onda é diminuir]. Presta-se igualmente à manutenção da inferioridade do brasileiro diante dos "países civilizados": Só por ser brasileiro, você já tem um currículo que "garante cientificamente" que você é inferior qualquer cidadão do 'mundo civilizado'...
É a idéia do "jeitinho brasileiro" que induz raciocínios do tipo: "no Brasil nada funciona mesmo por isso não adianta reclamar". Assim, os ladrões continuam lesando os hipossuficientes e os roubados continuam até sem o direito de se revoltar; é a ditadura da corrupção; na prática, não há, se quer, o direito de livre expressão – você tem que engolir tudo calado... "Pra quê se revoltar, pra quê falar disso se no Brasil é sempre e irremediavelmente assim?"... Quem se revolta é visto por nós, os normais, como um louco, um imprudente, alguém que não aceita a "realidade como ela é"... Se analisarmos com um pouquinho de bom senso é difícil ver seriedade num discurso desses; é difícil não ver sua permissividade posta a serviço do roubo aos direitos dos mais fracos, do roubo ao dinheiro público, da irresponsabilidade social e política, da corrupção – palavra que se tornou tão comum, tão inexpressiva tão normal em nossos dias... Sérgio Naia, Paulo Maluf, Mão Santa, Juiz Lalau, ACM et cetera, et cetera, et cetera... Milhares e milhares de herdeiros do gordo legado da imoralidade e da impunidade patrocinadas de forma despropositadas(?) pela imobilidade e pala complacência intelectual manifesta na passividade, que são mesmo, em última análise, conivência e a cumplicidade materializadas em idéias vagas (e aparentemente inocentes porém extremamente nocivas a você e a mim) como "jeitinho brasileiro"... Difícil é entender como é q as pessoas não percebem isso!!
...Li com alegria, outro dia, um jovem que esteve trabalhando nos EE UU dizendo "a expressão 'jeitinho brasileiro' não faz mais sentido pra mim"... Você está certo... Ela nunca fez sentido pra ninguém. Acontece que quem a utiliza está em busca de qualquer coisa, menos de sentido, de clareza, de reflexão, de seriedade, de rigor. Se eu fosse adepto da "teoria do jeitinho brasileiro" ou de preconceitos semelhantes, diria que você descobriu isso porque respirou os bons ares americanos, recebeu os sopros superiores do desenvolvimento... Nada disso! Você concluiu isso porque resolveu pensar: Parabéns!...

Um abraço!

rúben

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ao Mestre A. Jorge

Gostaria de pedir a permissão dos caros presentes para externar estas poucas palavras (isso é relativo, é claro) dirigidas publicamente ao - para mim já há muito tempo - Mestre Antônio Jorge, com quem tive (e pretendo voltar a ter) o prazer de cursar uma disciplina nesta Universidade.

Professor,
Gostaria muito de assistir pessoalmente a sua defesa, a qual sei que será moleza para o Senhor e riqueza para os demais. Na ausência da possibilidade, faço uso deste meio para dizer que admiro muitíssimo sua relação com o Saber, a forma como o Senhor se volta para o aprender e para o ensinar - o que julgo mais louvável e, não preciso negar, mobiliza meu interesse. Muito me alegra o fato de uma pessoa com seus valores e personalidade alcançar mais um degrau na carreira acadêmica. Sei que o investimento que o Estado Brasileiro fez desta vez alcançará, como em pouquíssimas outras, o objetivo de contribuir para o progresso da sociedade e, é este o caso, para a elevação do nível desta Universidade - creio que o senhor, se já não ocupa uma cadeira permanente entre nossos professores, o fará em breve.

O trabalho do educador é, de muito longe, o mais necessário para uma nação no estágio em que nos encontramos. Por isso, agradeço como pessoa por sua contribuição em minha formação - que, espero, não tenha terminado naquela disciplina - mas agradeço também como membro do corpo social. Parabenizo-o por sua dedicação nas aulas que dá - conversas informativas, discussões, na verdade; pela disponibilidade e pelo interesse manifesto em contribuir como possível para a formação de seus alunos; em fazer mover-se, muitas vezes só com as forças dos próprios braços, nosso sistema educacional emperrado - porque debilitado por quem lhe deveria edificar.

A Educação é uma tarefa quase sempre inglória, principalmente se considerarmos o retorno financeiro. Mas é, também pelas condições adversas, uma tarefa heróica que reflete, de quem a empreende, idealismo e responsabilidade coletiva - atributos, lamentavelmente, tão fora da moda atual. E é esta a tarefa que o Senhor tem abraçado e desenvolvido de forma tão legítima.

Gostaria de dizer que o Senhor tem me servido de exemplo e que me lembro de suas aulas como modelo de excelência quando ministro as minhas. Quando meus alunos dizem que minhas aulas são melhores que as dos outros professores, do meio de minha falsa modéstia ao desencorajá-los a fazer comparações, me lembro do Senhor além de alguns professores que tenho aqui.
Estou certo de que o título hoje alcançado é só o coroamento de uma carreira de trabalho árduo, dedicação e, digo sem medo de me enganar, de méritos! Isso tá na "kra" (Rsrsrs)!...
Parabéns, Atônio Jorge!
Parabéns, Cidadão!
Parabéns, Professor!
Parabéns, Mestre!
Um Abraço!
Rúben Reis
Estudante de Letras – UFPI